A minha foto
Castanheira de Pera, Portugal
"O Meio-termo é a virtude dos mentecaptos lobrigando a sua incapacidade de tocar o excelso".

domingo, 7 de novembro de 2010












DEUS E EU
                              
Sempre que ouço falar de Deus oscilo entre a crença e a suspensão desse Deus ausente e permissivo cuja existência me queimaram a fogo na minha consciência, e que com o livre arbítrio se desresponsabiliza das interrogações que tenho feito desde criança.
Um Deus que afirmam ser Omnipotente e Omnipresente o que significa que observa tolerante todos os crimes absurdos que vão cometendo as mentes canalhas.
Um Deus que abandona milhares de inocentes à mercê dos seus carrascos por causa dum Filho que mais tarde deixa sacrificar cruelmente, como se pela bondade e amor pelo próximo devesse ser castigado.
Um Deus que nos ensina a pintar de sangue as moradas e que exige que os promogenitos lhe sejam oferecidos num altar para celebrar o dom da vida, ainda que venha a  rejeitar.
Um Deus que envia pragas para castigar um povo descrente sem atender aos inocentes.
Um Deus que segundo as Escrituras fez chegar a Sua voz à Humanidade apenas num dado momento há milhares de anos algures num país distante, através Arca da Aliança.
Um Deus que coloca a Mulher num patamar abaixo do Homem, negando-lhe o direito da igualdade e que a culpa do Pecado Original, ainda que ordene: Crescei e multiplicai-vos! A Mulher que devia ser glorificada por ser a detentora do Berço da Humanidade.
O mesmo Deus que utilizou a pureza duma mulher para a gestação e criação do Seu Filho, para mais tarde ela ter de assistir ao seu derradeiro sacrifício a bem dos Homens.
Um Deus que nos promete o Paraíso e ameaça com a provação de cruéis castigos, mas que ignora os milhares de crianças que morrem de fome ou doença, enquanto a ganância e a ferocidade imperam, fazendo apodrecer o ventre deste mundo em que vivo.
Um Deus que estabelece regras para gerir emoções, definindo conceitos de moralidade, mas que criou um mundo onde se tem de matar para sobreviver e sacrificar para purificar.
Um Deus que tem sobrevivido ao decorrer dos milénios pela ignóbil inspiração dos que se alimentam da desesperança dos filhos da desgraça que mergulhados nessa ilusão fanática vão contribuindo para a criação de novos cultos que proliferam por este mundo fora. Todos em nome desse Deus completamente cego ao apogeu e glória em que vivem os seus auto-promovidos intermediários.
Este Deus permanecerá eternamente surdo às lamúrias, às rezas e às promessas de quem acredita que possa ser salvo socorrendo-se duma crença milenar por não ter capacidade para moldar o seu carácter a fim de expurgar as suas imperfeições.
É lamentável que impere sobre a Humanidade uma ameaça ainda que ilusória que fustiga com o medo duma visão Dantesca as consciências mais acanhadas, não para impedir a guerra, a fome, o crime ou outro mal maior, mas para levar multidões a subirem os degraus dos templos para adorarem santos feitos por habilidosos artífices.
Mas com ou sem fé nesse Deus o Homem continuará  um imparável aniquilador em nome da ciência e do progresso, porque ironicamente a inteligência, a maior competência que lhe foi atribuída, é usada de forma insana.
Não acredito que vejamos outro Paraíso senão este em que vivemos e a ser verdade que esse Deus exista há muito que nos abandonou.
Acredito num Ser Supremo que poderá administrar o Universo, apenas isso.
Acredito na Espiritualidade que cada um tem dentro de si, que muitas pessoas teimam em ignorar.
Acredito que a fé mova montanhas, mas a fé em nós próprios!

M. Fátima Gouveia
http://abnoxio.weblog.com.pt/arquivo/2008/10/aparicoes_de_fatima_em_project

A consultar

terça-feira, 24 de agosto de 2010



CARTA A UM AMIGO


Quando a vida nos golpeia a alma ao ponto de nos inflamar os sentidos e perturbar a consciência, caímos inevitavelmente numa desordem mental que fica para além da racionalidade e muito dificilmente na solidão em que mergulhamos, conseguimos alcançar de novo o equilíbrio.
Há muito tempo atrás, um amigo ao ouvir (provavelmente) pela centésima vez as minhas lamentações, Aconselhou-me a esquecer.
Esquecer como?
A Neurofisiologia explica que o processamento da memória ocorre por reverberação de sinais nervosos tálamo-cortical.
Eu gostaria de ser cirurgiã de mim própria ou até Deus, para interferir neste processo a fim de guardar apenas as boas lembranças.
Não existe uma razão lógica que me explique porque ficam gravados alguns acontecimentos e outros se diluem no decorrer do tempo, ou nunca se fixaram na nossa memória.
Quem nos manda esquecer, nunca sentiu na pele esta ferida que não se vê. Este desespero que nos corrói por dentro, envenenando-nos os dias e as noites.
Noites povoadas por fantasmas que nos matam os sonhos e dias tão nebulosos que nem o mais atrevido dos sois nos consegue iluminar o caminho.
Quem não entende a permanência desta dor que nos esmaga, não é dono da sensibilidade mais profunda que absorve todo o pulsar da vida à sua volta.
São aqueles que têm uma visão turva que apenas capta uma parcela da verdade da sua existência.
Ah! Pudera eu libertar-me desta angústia que me consome!
Arrancar com as próprias mãos os espinhos cravados na alma!
O pranto… apenas lava um espírito atormentado, porque a mágoa permanece…
Levanta-te amigo! Partilho contigo a pequena porção que me resta da esperança.
Vamos, que a fila é grande!
Lembra-te que é com a lapidação que os diamantes adquirem mais brilho!

FRAGMENTAÇÃO


Esta dualidade que me perturba o ser,
que me sufoca no cenário negro,
duma consciência desapertada

Esta dualidade que me ceifa a alma,
na exiguidade imperceptível do sentir,
uma navalha invisível cortar-me em dois


Esta dualidade que brota em mim,
quando o vórtice emerge sanguíneo,
na revolta de ser o que não consinto…
ninguém mais ver!

(Grades de kristal)
  O voo da garça
    Kristal Bruwa



ÁGUAS TURVAS

Porquê este título no meu blogue?




Sou por natureza contestatária. Desde criança que me rebelei contra qualquer imposição, sem que previamente me apresentassem uma razão lógica com a qual ficasse devidamente esclarecida. Ainda que, o meu raciocínio não abrangesse o âmago da questão, ou a explanação não fosse de todo elucidativa, aquietava-me a sensação, que para além do meu entendimento, existia um fundamento. A imposição do poder, como uma doutrina, é que não. É evidente, que este meu peculiar sentido de justiça, não me facilitou a vida. Equivaleu a uma infância recheada de sopapos, mais tarde, a perda de algumas promoções no emprego.


Ainda assim, por mais estranho que pareça, rejeitei sempre ser rotulada por qualquer sectarismo. Talvez porque não nasci dependente. Dependência, só mesmo da minha vontade. De certa forma, incomoda-me a subserviência, a pertinácia a causas, que nos seus primórdios foram altruístas, mas que inevitavelmente acabam, mais tarde ou mais cedo, por servir interesses obscuros.


Eu sou apartidária. Nenhum partido actual, vai ao encontro dos meus ideais políticos. No campo religioso, oscilo entre ateísta ou agnóstica. Tenho uma dúvida. Será que existe Deus? No entanto, receio a ira Dele.


Acredito que a maior parte das pessoas, pensam como eu, mas não têm a coragem de assumi-lo, com receio da reprovação de pessoas que vivem arreigadas a um obscurantismo desmesurado de fé que eclodiu há mais de 2000 anos, e teima em não acompanhar a evolução dos tempos.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010



VIDA MADRASTA

O dia alvoreceu cinzento, talvez por isso, acordei nostálgica.
Mas hoje o Tempo convidou-me a visitar o seu jardim.
Vi as folhas das árvores espraiando-se à minha volta pelo chão. Vermelhas, douradas, magoadas na despedida. Tal como as quimeras que edifiquei ao longo da minha existência.
A Vida é madrasta, que a todos engana, dando sem pedirmos o que por vezes nem queremos, e tirando o que com luta e desespero conseguimos alcançar.
Só quando dei a mão ao Tempo, é que este me segredou, que ninguém pode comedir forças com a própria Vida. Será sempre uma luta desigual.
Segredou-me também, que a Vida ainda que não pareça, é irmã gémea da Morte. E que eu, tal como as árvores me irei despindo de todas as ilusões, sonhos e ambições, como as folhas que pisamos no chão. Vermelhas, douradas, magoadas na despedida.
Transformar-me-ei num galho seco, até um sopro de vento agreste me quebrar, espalhar os meus fragmentos pelo universo.
Mas ele é o Tempo. Só a ele cabe definir o momento exacto em que tudo vai acontecer, independentemente de cálculos matemáticos, vontade, ou determinação do género humano. É dele que virá a ordem suprema.
Quando esse momento chegar, a Vida que nos sugou impiedosamente, todas as nossas veemências, exaurindo-nos até a alma, nos entregará à Morte, que numa estranha leveza nos levará, sem darmos por isso.
O meu único lenitivo é saber que a Natureza, que a todos alimenta, me receberá generosamente nos seus braços, para me converter no âmago da própria Vida

F. G.
A AMEAÇA DOS ISLAMISMO

Houve alguém que me enviou há tempos um e-mail que alertava para ameaça islâmica.
É interessante como as palavras têm um extraordinário poder de bloquear o raciocínio dos incautos. E esse é o objectivo da propaganda xenófoba.
Semear a desconfiança e o repúdio por uma raça, neste caso pelo mundo muçulmano, com a mesma argúcia que Hitler utilizou para exterminar os judeus.
É certo que os muçulmanos se têm espalhado pela Europa, como todos os cidadãos do mundo o fazem. E por razões idênticas.
Os mais pobres vão à procura duma vida melhor, porque é neles que se reflectem as dificuldades provocadas pela má gerência do seu país.
Outros fogem à repressão política, e outros ainda porque pretendem libertar-se das leis absurdas completamente desfasadas do resto do mundo.
É compreensível que levem consigo todos os dogmas que fazem parte da sua identidade e que definem a cultura a que pertencem.
São duma maneira geral os mais necessitados, que se agarram às crenças religiosas, sabendo que o mal não está na religião, mas na interpretação que fazem dela.
Estas regras aplicam-se aos emigrantes de qualquer país.
Quase sempre estas pessoas vão pegar em trabalhos menos qualificados, neste caso todos são beneficiados.
Quando um país que é por norma destino de imigração entra em crise, o fluxo de imigração também recua.
Assim como é do conhecimento geral, que os filhos dos imigrantes, principalmente os netos acabam por se identificar com os países onde actualmente vivem, principalmente se nasceram nele.
Podemos comparar com os nossos luso-descendentes que ao fim de vários anos, já não encontram motivos para voltarem a Portugal, porque toda a família está plantada noutro país.
De país de origem restam as memórias. Mas morrendo os patriarcas…morrem as lembranças deste pequeno rectângulo, como o sangue que se vai diluindo ao longo das gerações no seu entrosamento com o  país de acolhimento.
Acabando por resultar numa situação completamente inversa àquela que o texto nos alerta.
Perdendo-se a identidade, os costumes, as tradições e as crenças religiosas, deixa de fazer sentido a ameaça.
E as Mesquitas que são agora o apoio espiritual dos imigrantes islâmicos para as gerações futuras, não serão mais do que belos monumentos a visitar.


M. Fátima Gouveia

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O HOMEM ANIMAL EM VIAS DE EXTINÇÃO


Com uma perspectiva de vida entre os 65 e os 86 o homem é um animal social em vias de extinção!


Ao longo de várias gerações tem sofrido várias mutações nas suas características físicas e comportamentais.


Senão vejamos, antes caçador vigoroso, lutador feroz, conquistador incansável, hoje poderemos considerar a maior parte deles, animais híbridos.


Ainda que paire por aí alguns dóceis e inteligentes, com boa capacidade de aprendizagem que podem ser bem aproveitados para executar algumas tarefas úteis, mas na sua maioria revelam uma enorme fraqueza perante doenças, aterrorizam-se com qualquer resfriado, e envelhecem precocemente sendo acometidos de surdez, Alzhemer, depressão e outras merdas que temos que levar com elas.


Outros (salvo casos erros genéticos) quase se confundem com fêmeas e pior do que isso assumem a sua condição dúbia de forma orgulhosa sem se darem conta que a mulher aplaude com mira no comando das gerações futuras.


A afeição e a companhia por este animal são motivos para esta famosa frase “O cão é o melhor amigo do homem - e este o maior amigo da mulher!”.


E quando surge na televisão alguém que ainda julga pertencer à classe auto-promovida a inteligência superior geradora de invenções e descobertas científicas a lamentar-se que a mulher está a ficar à frente da maioria dos cargos de maior relevo neste país, sem dúvida!


E o panorama ainda vai ficar mais negro, porque há cada vez há mais mulheres a viverem sozinhas, compreende-se. Antes havia necessidade de animais de carga, brutamontes musculados para as tarefas mais pesadas, mas hoje existem máquinas para tudo.


Depois temos umas contas a ajustar com os homens. Quem é que inventou essa, da mulher ser a culpada do pecado original?


E que pecado? O da maçã? A meu ver, já nessa altura ela mostrava o seu lado maternal, preocupando-se em o alimentar, mas ele virou o sentido à coisa.


Comeu a maçã e a mulher, depois apanhado em flagrante acusou-a de andar com as partes íntimas à vista, e aí ela (inteligente) vingou-se, criando a roupa, nascia a primeira estilista! Eva!


Mas ainda falando do sexo, a ser verdade que ela o atraiu, quer dizer que se não fosse ela o homem jamais adivinharia porque tinha essa tirinha de carne a mais? Que ingenuidade!!!


De todas as maneiras ela mostrou ser mais inteligente!


E essa da mulher nascer duma costela de Adão (deixem-me rir!) é tanga! Já nesse tempo o homem mostrou querer competir com a mulher, queria parir só que não sabia como era! (risos).


Mas lutou tanto para se igualar a ela, que quase o conseguiu!


Ao longo dos tempos foi perdendo a força, a ferocidade, os músculos, os pêlos no corpo, e graças à medicina até já consegue ter uma vagina, mamas, e gordurinha em sítios onde era, suposto não ter.


Digam-me lá se isto não é inveja?


Mas nós perante isto, vamos rindo cinicamente, está na nossa natureza, a virtude da espera! Um dia é do caçador, outro da caça!


O homem é uma raça em vias de extinção, porque está a chegar o dia (muito breve) das crianças se possam reproduzir com segurança em laboratório sem necessidade (cada vez mais fraca) da contribuição do homem.


Uau! Adeus garanhões de trazer por casa! Adeus Apolos artificiais injectados com beta-agonistas e termogenicos, preferimos sustentar um burro a pão de ló!


Ah!...estão a pensar naquilo? Ora, nada que uma boa gama de vibradores não resolva!


M. Fátima Gouveia

terça-feira, 17 de agosto de 2010















A PALAVRA

A palavra deveria ser uma doutrina, mas não é. A Palavra deveria estar condicionada ao seu vero sentido, não sujeita a dúbias interpretações.
A força da Palavra é incontestavelmente desmesurada. Ela pode atingir a velocidade da luz, e ser tão ferina com uma arma.
A Palavra é gnómica. Pode ser meiga, delicada, sedutora. Como poderosa, corajosa, atrevida, ou ainda violenta ou até letal.
Apesar disso a Palavra é frágil, tão frágil, que a distorcemos, que a eclipsamos sob outro sentido, ou a moldamos a outros desígnios.
A Palavra é o veículo para expressarmos as nossas emoções, mesmo quando, julgamos que as não revelamos.
Porque as Palavras não mentem, as pessoas sim.
As Palavras, para quem as atentar ouvir, elas acusam o estado de espírito de quem as profere.
As Palavras podem flutuar em doces sussurros, ou ser disparadas para grandes distâncias, até se diluírem no infinito. Nunca voltam atrás.
As Palavras, não têm medo, não se arrependem. Uma vez soltas, atingem infalivelmente o seu objectivo.
As Palavras, sobem montanhas, atravessam oceanos, permeiam céus. Forjam guerras, desgarram destinos, projectam a morte. Assim como podem, consciencializar a Humanidade. Derrubar barreiras, aniquilar preconceitos, disseminar a Paz, semeando o amor no corações dos Homens.
Há palavras que amam, palavras que magoam, palavras que matam.
Palavras que ficam marcadas a fogo no nosso subconsciente.
Palavras que são arremessadas como punhais
Palavras suspiradas no silêncio
Palavras que não são ditas
Palavras que não são pensadas
Mas de todas elas, as mais perigosas, são as que queremos ouvir!
Porque essas Palavras… são indubitavelmente as que nos atraiçoam o destino!


M. Gouveia
UM CONTRACTO EXECRÁVEL

Quando chegava ao meu conhecimento a iminente separação dum casal amigo de meia-idade ficava perplexa, tinha dificuldade em entender que duas pessoas ao fim de vinte, trinta ou mais anos de viverem em comum, encontravam motivos para se separarem, o que equivalia a uma alteração drástica nas suas vidas. Alguns já com netos adultos.
E o mais absurdo é que a maioria desses casais usufruíam dum aparente conforto financeiro, aconchegados a bens que foram acumulando ao longo da existência, produto de muito trabalho e sacrifício e de quem nunca testemunhei qualquer atrito que pressagiasse uma rotura. Cheguei a pensar muita vez que se tratava de maledicência alheia.
Mas a confirmação vinha depois, com a efectiva separação judicial.
Confesso, que sempre achei que nada justificava tamanho esforço, a não ser, quando via assumida outra relação já existente.
Assim sendo até compreendia, porque em qualquer altura da vida as pessoas têm direito de ir ao encontro daquilo que julgam ser a felicidade.
Todos são perdedores neste processo, até mesmo aqueles que nada têm a ver com o assunto, mas que convivem com o casal desavindo.
Estes laços que se desfazem, para além de nos provocarem instabilidade emocional, provocam inúmeras situações de desconforto e sensações de desânimo e perda.
Significa um abalo no nosso mundo dos afectos.
Mas há casais que sem razão aparente persistiam na dissolução do seu matrimónio, e isso sempre me confundiu.
Separam-se e pronto. Depois de partilharem anos a fio, alegrias, tristezas, cama e roupa lavada, conhecendo-se por dentro e por fora, sabendo de cor todas as suas diferenças, defeitos e fragilidades, não era suposto, contarem-nos um final feliz?
Final feliz (entenda-se), nesta história nunca há finais felizes.
Sinceramente nunca entendi… até ao dia em que acordei, e reparei que andava a dormir com um estranho.
A mais pura das verdades!
O homem que agora dorme comigo na cama, (ressona que nem uma locomotiva) não é o mesmo que há anos atrás, escolhi para marido.
Juro-vos que não!
O homem com quem casei era uma pessoa bonita, alegre, não mal-humorada como esta, com alguns assanhamentos. A minha esperança é que num desses ataques de fúria tombe para o lado, esticado de vez.
O outro escutava-me, dava-me atenção. Este passa a vida a dizer que não tem tempo, ou então finge que me ouve, abanando a cabeça como me comesse por parva!
O outro era afectuoso, fazia-me agrados. Na opinião deste, faço tudo mal, sou uma calamidade. Ele mija fora da sanita e toma os comprimidos errados, (risos) espero que um dia destes troque o da azia pelo do coração.
O outro dizia-me constantemente que era bonita. Este, não se cansa de me chamar a atenção, que estou cada vez gorda e velha, grande novidade! Não se deve olhar ao espelho, nem olha para baixo que a barriga não deixa.
O outro, quando me via doente ficava preocupado. Este dorme noutro quarto, diz que é para não me (se) incomodar.
O outro, quando eu realizava algo interessante, gabava-me. Este nem repara, ou então desculpa-se com as cataratas.
O outro, quando eu estragava alguma coisa por descuido, encolhia os ombros. Este não se cala com recriminações. Esquece-se das vezes que esmigalha as lâmpadas de tanto as apertar ou quando fica com a pega a arder quando retira a cafeteira do lume, ou quando o apanho a limpar os sapatos com a toalha de mesa que ele teima em chamar de “pano”.
O outro gostava de me ver com o cabelo arranjado, este diz que não vale a pena, porque só resultava se mudasse de cara.
O outro convidava-me alegremente para beber um café, este diz que nem cem cafés me excitariam.
A dada altura, percebi que apesar de estarmos 24h juntos, não chegamos a ter no total, dez minutos de diálogo. Diálogo a sério.
O que mais me custa são os longos silêncios ensurdecedores no meu canto, em que fico a ruminar esta estranha forma de viver com um desconhecido a tiracolo.
No entanto, aparentemente damo-nos bem. Não existem brigas, não lançamos punhais um ao outro. Ainda que haja alturas que me apeteça envenenar-lhe a comida ou empurra-lo pelas escadas a baixo, ou até dar-lhe uma martelada na cabeça quando está a dormir.
Mas penso que apesar da investigação criminal em Portugal estar muito à quem da dos Estados Unidos, os polícias gostam muito de ver o C.S.I. e com a mania de apresentarem serviço ainda acabariam por descobrir pele debaixo das unhas, ou impressões digitais minhas no pescoço dele.
Já pensei em todas as maneiras de me ver livre dele de forma segura. Só tenho uma, esperar que o tempo arrume com ele.
Pois é… não me recordo da rescisão do antigo contracto, e muito menos de ter assinado este outro, tão execrável.
O meu bem-haja, a todos os que tiveram coragem para romper a barreira da indecisão, da dubiedade e do preconceito, dando um tiro no inimigo.


K.B

segunda-feira, 31 de maio de 2010



QUEM EU SOU?


Uma pergunta que tenho feito a mim própria, mas não atino com a resposta.
Sou igual a ti, àquela, ou outra qualquer pessoa que caminha pelo mundo.
Como a gente que se cruza na minha vida, ou como às vezes gosto de dizer…trespassa-a.
Como um vórtice agitando o âmago do meu ser.
Agora, é muito frequentemente ouvir dizer, de forma sobranceira e com denotado orgulho, que nunca se arrependem dos caminhos escolhidos, ou das atitudes tomadas.
Admiro tal garantia, em acertaram milimetricamente na excelência dos seus actos, ou a vaticinarem o futuro.
Eu, modesta e humildemente confesso. Errei!
Errei a cada passo que dei. Por inexperiência, imutabilidade imposta por terceiros, lorpice? Porque não? E muitas mais razões…
Não me incomoda dizê-lo. Porque na existência, estamos condenados a ser eternamente catecúmenos.
Gostaria de ter a possibilidade de voltar a trás, para emendar o que fiz de mal.
Modificar vontades, criar novos projectos, alterar o fio condutor do destino.
Uma utopia sem fim à vista! Porque erraria novamente. Noutras coisas, claro!
Tenho noção do meu valor. O valor exacto duma formiga, duma borboleta, dum beija-flor…
Faço parte dum puzzle, que vejo dia a dia, desmoronar-se.
A factura daquilo a que chamam evolução. Uma engrenagem complexa gerida pela ganância e abuso de poder. Mais complicado do que isso, a torre da Babel já tem uma imensurável altura.
Sou pequenina, mas tão pequenina, que acredito que um dia virá um pé lá de cima para me esmagar, numa escandalosa indiferença, como o fazemos com os bichinhos, quando pisamos a terra. Que também são necessários. E têm direito a viver.
A minha vida semelha-se a qualquer coisa…como uma folha de árvore.
Numa árvore, as folhas parecem todas iguais, mas são diferentes: Na forma, na cor, no tamanho. Umas morrem à nascença, outras resistem à força do vento e outras caiem ao menor sopro. Mas todas elas nascem da mesma forma, e acabam inevitavelmente por tombar no chão, devoradas pelo “sistema”.
Miro-me ao espelho e estranho-me.
Recuso ser aquela mulher de olhar fixo que tenta perscrutar-me a alma. Cuja idade vai riscando de branco os cabelos que resistem ao passar da escova, ao passar do tempo.
Recuso ser, as rugas que abrem sulcos profundos no meu rosto. E que impiedosamente, e contra os meus protestos, vão danificando todo o meu corpo, transformando-o num velho e seco pergaminho.Recuso ser, os olhos tristes que vejo, cravados na memória das imensas frustrações e conflitos que marcaram meu passado.
Recuso ser, o que transpareço. Ainda que… não tenha outra forma de me apresentar aos outros.
Afinal quem sou?
Sou: O sangue quente que me corre nas veias, que se revela na face em momentos de exaltação.
Sou aquilo que não confesso: O sonho, a arte, o desejo, a aspiração, a alegria…que me fazem enfrentar a vida com tanta emoção.
Sou: A dor, o amor, o ódio e a raiva, comprimidos num só momento.
Não sou nada!

F. G.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

VOZES SEM ECO

Quando era criança, ouvia muito vez dizer que o povo português era estúpido e mandrião.
À medida que fui crescendo, fui constatando que essa opinião generalizada, era norteada por um governo ditador a quem interessava manter-nos pobres e ignorantes, sob a opressão de uma meia dúzia de caudilhos que detinham o poder económico e que nos exploravam sobranceira e descaradamente.
Restando alguns resquícios de orgulho, este povo cansado de carregar a “canga” libertou-se do espartilho que o oprimia, fazendo uma revolução.
Uma revolução de “cravos vermelhos”. Ainda hoje não entendi porquê, já que o vermelho simboliza força, determinação.
Nós que gostamos de nos intitular, como pessoas de “brandos costumes”.
Brandos costumes, porque se havia perdido no rolar de muitas gerações, todo o sangue fero dos nossos guerreiros que atravessaram terras e mares, para nos colocar no pódio como um dos maiores e mais ricos países do mundo.
É isso que falta a este povo, que na embriaguez de uma liberdade conquistada num piscar de olhos, deixou-se enlevar por fantasias ditadas por quem soube habilmente manobrar a mente duma maioria alheia a tudo o que dizia respeito à gerência dum país. Acreditando ou simplesmente obedecendo.
Lembrando que fomos durante anos acorrentados a uma cultura, que se alicerçava em valores morais de vassalagem e dependência a todos os que estavam num patamar superior. Compreende-se a dificuldade em alterar a mentalidade castrada da nossa gente.
A esperança estaria na geração mais nova. Mas esta tal pássaros em cativeiro, já nasceram habituados a viver neste marasmo. E os que se atreveram a questionar a situação, foram intimidados pelo fantasma da rebelião. Os poucos que ainda hoje reagem, são os que não têm nada a perder, porque já nasceram sem nada. E fazem-no da pior maneira, são os marginalizados.
Subsiste, ainda erroneamente a esperança nos discursos habilmente elaborados, dos políticos. Das suas promessas utópicas, das garantias quiméricas, com o objectivo de servir os seus próprios interesses. O povo não é néscio, apenas tem fome em acreditar.
É desta forma, que a “corja” se vão orientando, em nome do desenvolvimento Económico e Social. Colocando a Economia na rua das amarguras, e sonegando os direitos sociais a toda a gente.
Mas duma coisa nos podemos orgulhar, o nosso país está subir a nível nunca antes atingido. Chegando a superar os países mais prósperos.
Em relação aos ordenados dos administradores de grandes Empresas. Algumas, pertenças do Estado.
Mas tem havido mudanças. Mudanças que sugerem apenas, novas cores na “canga”, que para nosso desespero, cada vez tem mais arrebiques.
Na minha modesta opinião, quem se tem sentado na régia cadeira, não tem só uma Licenciatura, como também tirou o Mestrado, em esperteza e jogo de cintura, para além de ter uma vocação inata para o discurso ludibrioso. Revelando habilidades que fariam hoje, corar quem dela caiu.
Aos poucos o desânimo vai tomando conta deste povo, que insiste em ter a memória curta.
Que mantêm o gosto pelas festarolas, beijinhos, panfletos e romarias.
Mas quando chega a hora de se defender, segue uma intuição orientada por simpatias ou encarneirada na conversa dos amigos em qualquer café, entre cigarros e uma bicas.
É por esta razão, que as maiorias continuam a ser as mesmas, e as minorias, não passam disso mesmo. Perdem-se as boas intenções.
Enquanto isso, os visionários independentes vão-se calando ao ver o seu grito de revolta não ter eco.
Então, que falta a este povo que de burro nada tem?
Um país que cabe na mão de qualquer outro, mas que tem muita gente, da qual se pode orgulhar?
Falta motivação e principalmente coragem, para dizer de uma vez por todas.


                                                     BASTA!!!

F.G.

sexta-feira, 16 de abril de 2010



O AMOR NÃO EXISTE

O Amor não existe. O que existe é o sindroma do Amor. Um conjunto de emoções, situações e perturbações que nos conduzem a uma dependência a que chamamos de Amor.
Porque o Amor como afecto directo, objectivo e consensual não existe.
O chamado Amor veste-se de gala para seduzir, depressa se despe à primeira contrariedade, porque ele apenas serve um dono, "Eu".
"Eu" amo! "Eu" desejo! "Eu" preciso daquele ser cuja presença me faz sentir bem! Que me acalma o espírito, que me dá prazer! Que por qualquer razão, que a própria razão desconhece, ilumina a minha vida.
É por mim, pelo meu bem-estar que eu o/a vou cativar.
Todas as expressões poéticas sobre o amor são pura fantasia.
O Amor é um sindroma, porque não tem consistência própria como a maioria dos outros afectos. Alimenta-se de sensações marginais. Como ilusão, felicidade, alegria, tristeza, amargura, ciúme, raiva, ódio...
Consome-os à velocidade da luz, numa luta constante contra tudo e contra todos para servir o seu amo, "Eu".
Depois de se embriagar em si próprio, afadiga-se, esmorece. Entrega à dependência, à amizade ou ao dever, a responsabilidade do seu abandono.
O Amor mente, atraiçoa, embusteia, provoca, oculta, censura, exige, reprime...
Impôe regras que ele não cumpre.
Mune-se de todas as armas para cativar. É por essa razão que é tão poderoso.
Por ele se mata, por ele se morre.
É ele que a maior parte das vezes gere o mundo duma forma subtil, cruel e edificadora.
Na História da Humanidade tem manobrado nos nastidores, declarando guerras, transfigurando nações, ditando destinos, provocando desatinos.
O amor é o mais canalha de todos os sentimentos
Um cruel paradigma do mundo dos afectos.
F.G.