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Castanheira de Pera, Portugal
"O Meio-termo é a virtude dos mentecaptos lobrigando a sua incapacidade de tocar o excelso".

terça-feira, 24 de agosto de 2010



CARTA A UM AMIGO


Quando a vida nos golpeia a alma ao ponto de nos inflamar os sentidos e perturbar a consciência, caímos inevitavelmente numa desordem mental que fica para além da racionalidade e muito dificilmente na solidão em que mergulhamos, conseguimos alcançar de novo o equilíbrio.
Há muito tempo atrás, um amigo ao ouvir (provavelmente) pela centésima vez as minhas lamentações, Aconselhou-me a esquecer.
Esquecer como?
A Neurofisiologia explica que o processamento da memória ocorre por reverberação de sinais nervosos tálamo-cortical.
Eu gostaria de ser cirurgiã de mim própria ou até Deus, para interferir neste processo a fim de guardar apenas as boas lembranças.
Não existe uma razão lógica que me explique porque ficam gravados alguns acontecimentos e outros se diluem no decorrer do tempo, ou nunca se fixaram na nossa memória.
Quem nos manda esquecer, nunca sentiu na pele esta ferida que não se vê. Este desespero que nos corrói por dentro, envenenando-nos os dias e as noites.
Noites povoadas por fantasmas que nos matam os sonhos e dias tão nebulosos que nem o mais atrevido dos sois nos consegue iluminar o caminho.
Quem não entende a permanência desta dor que nos esmaga, não é dono da sensibilidade mais profunda que absorve todo o pulsar da vida à sua volta.
São aqueles que têm uma visão turva que apenas capta uma parcela da verdade da sua existência.
Ah! Pudera eu libertar-me desta angústia que me consome!
Arrancar com as próprias mãos os espinhos cravados na alma!
O pranto… apenas lava um espírito atormentado, porque a mágoa permanece…
Levanta-te amigo! Partilho contigo a pequena porção que me resta da esperança.
Vamos, que a fila é grande!
Lembra-te que é com a lapidação que os diamantes adquirem mais brilho!

FRAGMENTAÇÃO


Esta dualidade que me perturba o ser,
que me sufoca no cenário negro,
duma consciência desapertada

Esta dualidade que me ceifa a alma,
na exiguidade imperceptível do sentir,
uma navalha invisível cortar-me em dois


Esta dualidade que brota em mim,
quando o vórtice emerge sanguíneo,
na revolta de ser o que não consinto…
ninguém mais ver!

(Grades de kristal)
  O voo da garça
    Kristal Bruwa



ÁGUAS TURVAS

Porquê este título no meu blogue?




Sou por natureza contestatária. Desde criança que me rebelei contra qualquer imposição, sem que previamente me apresentassem uma razão lógica com a qual ficasse devidamente esclarecida. Ainda que, o meu raciocínio não abrangesse o âmago da questão, ou a explanação não fosse de todo elucidativa, aquietava-me a sensação, que para além do meu entendimento, existia um fundamento. A imposição do poder, como uma doutrina, é que não. É evidente, que este meu peculiar sentido de justiça, não me facilitou a vida. Equivaleu a uma infância recheada de sopapos, mais tarde, a perda de algumas promoções no emprego.


Ainda assim, por mais estranho que pareça, rejeitei sempre ser rotulada por qualquer sectarismo. Talvez porque não nasci dependente. Dependência, só mesmo da minha vontade. De certa forma, incomoda-me a subserviência, a pertinácia a causas, que nos seus primórdios foram altruístas, mas que inevitavelmente acabam, mais tarde ou mais cedo, por servir interesses obscuros.


Eu sou apartidária. Nenhum partido actual, vai ao encontro dos meus ideais políticos. No campo religioso, oscilo entre ateísta ou agnóstica. Tenho uma dúvida. Será que existe Deus? No entanto, receio a ira Dele.


Acredito que a maior parte das pessoas, pensam como eu, mas não têm a coragem de assumi-lo, com receio da reprovação de pessoas que vivem arreigadas a um obscurantismo desmesurado de fé que eclodiu há mais de 2000 anos, e teima em não acompanhar a evolução dos tempos.

2 comentários:

  1. Gostei imenso de a ler. Temos muito em comum. :)
    Um abraço.

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  2. Amiga Maria Fátima

    Foi atabalhoadamente que abri o mail do FB, após iniciar o computador, tão ansioso que estava por notícias. Encontrei uma carta maravilhosa.
    Peço perdão por não comentar já, como devia.
    Faz hoje precisamente 15 dias que a Isabelinha "partiu".
    Muito, muito obrigado, querida amiga.
    Beijinho
    António

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