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Castanheira de Pera, Portugal
"O Meio-termo é a virtude dos mentecaptos lobrigando a sua incapacidade de tocar o excelso".

quinta-feira, 19 de agosto de 2010



VIDA MADRASTA

O dia alvoreceu cinzento, talvez por isso, acordei nostálgica.
Mas hoje o Tempo convidou-me a visitar o seu jardim.
Vi as folhas das árvores espraiando-se à minha volta pelo chão. Vermelhas, douradas, magoadas na despedida. Tal como as quimeras que edifiquei ao longo da minha existência.
A Vida é madrasta, que a todos engana, dando sem pedirmos o que por vezes nem queremos, e tirando o que com luta e desespero conseguimos alcançar.
Só quando dei a mão ao Tempo, é que este me segredou, que ninguém pode comedir forças com a própria Vida. Será sempre uma luta desigual.
Segredou-me também, que a Vida ainda que não pareça, é irmã gémea da Morte. E que eu, tal como as árvores me irei despindo de todas as ilusões, sonhos e ambições, como as folhas que pisamos no chão. Vermelhas, douradas, magoadas na despedida.
Transformar-me-ei num galho seco, até um sopro de vento agreste me quebrar, espalhar os meus fragmentos pelo universo.
Mas ele é o Tempo. Só a ele cabe definir o momento exacto em que tudo vai acontecer, independentemente de cálculos matemáticos, vontade, ou determinação do género humano. É dele que virá a ordem suprema.
Quando esse momento chegar, a Vida que nos sugou impiedosamente, todas as nossas veemências, exaurindo-nos até a alma, nos entregará à Morte, que numa estranha leveza nos levará, sem darmos por isso.
O meu único lenitivo é saber que a Natureza, que a todos alimenta, me receberá generosamente nos seus braços, para me converter no âmago da própria Vida

F. G.

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