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Castanheira de Pera, Portugal
"O Meio-termo é a virtude dos mentecaptos lobrigando a sua incapacidade de tocar o excelso".

domingo, 16 de janeiro de 2011



A MORTE A LEILÃO

Há poucos dias, uma jovem em Portimão foi supostamente atirada pelo marido do 8º. Andar do prédio onde moravam.
Mas quando notícias deste género se reportam a gente conhecida e principalmente do Jet7, o caso muda de figura. Porque estas notícias vendem! As outras só servem para engrossar as estatísticas.
Lamentavelmente é a mentalidade deste povo. O mesmo em que em entrevistas de rua afirma sem qualquer sombra de dúvida, que este ou esta apresentadora (que só conhece através das revistas ou dos canais televisivos) é uma pessoa extraordinária, simpática, generosa por dá muitos prémios. Resumindo, muito boa pessoa!
O mesmo povo, que no funeral dum familiar ou amigo, afirma com convicção que o falecido só tinha qualidades e grandes, mesmo que tivesse batido na mãe ou atingido um vizinho com chumbadas.
O mesmo povo que elege candidatos políticos à sorte, colocando a cruz na primeira foto que aparece na folha de voto, ou naquele que acha mais simpático, ou ainda, porque o seu merceeiro lhe confidenciou que este ou aquele era o melhor.
Até porque o conhecera pessoalmente, quando passou à sua porta em campanha, bem escanhoado, penteadinho e a cheirar a perfume, sorrindo e cumprimentando toda a gente. Sem se furtar à beijoca das velhotas e crianças que esperavam em fila pela distribuição dos saquinhos, panfletos, bonés ou camisolas.
Um povo que mesmo em tempo de crise, junta milhares de euros para a realização de festas, em leilões onde um chouriço e uma garrafa de vinho adquiridos a preço de saldo nos grandes espaços, chega a atingir os cem euros. Numa orgulhosa demonstração de poderio económico, ainda que não haja em casa uma máquina de lavar roupa, ou nunca tenham levado a família a sair da terra.
Um povo que olha com respeito e admiração, aqueles que no seu entender estão num patamar superior, pela simples razão de exercerem cargos de relevo na sociedade, desprezando outros valores bem mais acima, como a humildade, a generosidade o amor pelo seu semelhante.
Um povo que espera…e desespera sem se atrever a falar mais alto, porque se acomoda. Porque pensar, avaliar, protestar…dá trabalho e prefere “sopas e descanso!”.
Um povo, onde muita gente continua a sacar do Estado benefícios indevidamente, e que não entende que se lhes é oferecido um chouriço será para os entreter, enquanto “Os altos comandos” devoram varas de porcos.
Um povo que bate palmas a programas televisivos idiotas, alimentando a pança dos palhaços que lideram as audiências, sem entender que os mesmos insultam a sua inteligência, ganhando num mês o que eles nunca chegarão a ganhar a vida inteira.
Por isso as chamadas Revistas Cor-de-rosa vendem e muito.
É a coscuvilhice e o gosto pelo bem dizer e mal dizer, que sempre existiu.
A revelação dos corpinhos bem-feitos, esculpidos pela arte do bisturi e respectiva manutenção em Spas. É a passerela da luxúria e da riqueza, tão falsas como os sorrisos que os acompanham, ensaiados diariamente frente ao espelho.
O jovem de Cantanhede tornou-se vítima de si próprio ao destruir o promissor futuro que tinha, quando foi caçado na teia da fascinação por esse falso e escorregadio lixo que é o mundo do Jet7.
Lamento a morte, tal como lamento a mente que a ditou.
E o povo que sabe ler mas não quer ler Cultura. Mantêm-se alegremente ignorante pelo que realmente importa.
E quem se importa vai esmorecendo por não encontrar o eco das suas palavras.
Palavras escritas, palavras faladas…palavras deitadas ao vento, enquanto a morte estiver a leilão!

M. F .G.