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Castanheira de Pera, Portugal
"O Meio-termo é a virtude dos mentecaptos lobrigando a sua incapacidade de tocar o excelso".

sábado, 7 de abril de 2012

LEMBRANÇAS MINHAS


LEMBRANÇAS MINHAS

Hoje acordei com uma sensação de um vazio sem descortinar a razão.
O dia promete, o sol espreita timidamente mas eu sinto-me como estivesse em contagem decrescente.
No meu computador vão-se acumulando os emails dos amigos, a maior parte deles são mensagens anímicas, paisagens lindíssimas com fundos musicais relaxantes. Sem dúvida inspiradores para gente jovem e inexperiente nos trambolhões da vida. Os conselhos repetem-se como se tudo se resolvesse numa simples questão de vontade.
O meu espírito está cansado de ler o que sei de antemão, mas cujo perfil de vida não mo permite concretizar.
Os emails vieram substituir as cartas de outrora.
Antigamente, o toque do carteiro alvoroçava-nos o coração, porque trazia notícias de um familiar, de um amigo, do namorado ou até do amante. Não sendo caso de morte era motivo de grande satisfação.
O carteiro, em alguns lugares como o meu, ainda toca, mas lamentavelmente já não provoca a alegria de antigamente. Na sua bagagem apenas traz: propaganda, faturas ou intimidações do tribunal…
Ainda me recordo do prazer que me dava abrir uma carta, ansiosa por desvendar as novidades que se escondiam dentro dela.
Primeiramente os envelopes, eram brancos, depois surgiram os coloridos, alguns com discretos desenhos, e os perfumados para os apaixonados.
A missiva fosse redigida num português correto ou com erros ortográficos, pouco importava. O que nos regozijava era receber as notícias de alguém que se lembrava de nós.
Depois vieram outros meios de comunicação, mais eficazes que condenaram à morte a humilde carta.
Mataram as palavras de amor ditadas pelo coração, o carinho da família envolvido num rosário de conselhos, o amor e a amizade postados num modo particular de escrever.
O magro postal também está morto. Seja o postal de férias, de natal, o de aniversário… e por aí por diante.
O desenho das emoções foi sendo substituído pelo telefone. Longas horas de namoro, segredos e inconfessáveis desejos deslizavam de um ao outro lado da linha, na ilusão da curta distância em que as palavras se cruzavam.
Depois veio o telemóvel, mais moderno e indiscreto. E de novo a imaginação do sentido prático das coisas nos fez cativos de uma necessidade que nos rouba a liberdade e nos obriga  a mentir.
Por fim o email, pequeno, sedutor e com relevada carga emotiva, que veio para ficar.
É o mais completo meio de comunicação à distância de um clique.
Paradoxalmente, parecendo que estamos mais próximos una dos outros, na realidade distanciando-nos cada vez mais.
Eu gostava de olhar para a carta. Com letras bem ou mal desenhadas eram os ecos da alma de quem as escrevia. 
A maior parte dos emails que hoje recebo, é certo que são a lembrança e carinho de alguém para mim, mas não veem do seu coração.
Eles são criados para brilhar e circular, destinados a longos percursos, que alguns chegam vezes sem conta ao meu correio. Mas não preenchem vazios de alma.
Razão porque vejo imensos diariamente e continuo a sentir uma enorme solidão.
 Tenho saudades de ler notícias tuas. Lembro-me de quando me escrevias:
«Desejo que tu e a tua família se encontrem bem, que eu com a Graça de Deus cá vou andando.
Escrevi-te só para te dizer que…»
 A Natureza é tão perfeita que ela não muda, apenas se renova.
A imperfeição do homem está na permanente procura da perfeição
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 Maria Fátima Gouveia