LEMBRANÇAS MINHAS
Hoje
acordei com uma sensação de um vazio sem descortinar a razão.
O
dia promete, o sol espreita timidamente mas eu sinto-me como estivesse em
contagem decrescente.
No
meu computador vão-se acumulando os emails dos amigos, a maior parte deles são
mensagens anímicas, paisagens lindíssimas com fundos musicais relaxantes. Sem
dúvida inspiradores para gente jovem e inexperiente nos trambolhões da vida. Os
conselhos repetem-se como se tudo se resolvesse numa simples questão de vontade.
O
meu espírito está cansado de ler o que sei de antemão, mas cujo perfil de vida
não mo permite concretizar.
Os
emails vieram substituir as cartas de outrora.
Antigamente,
o toque do carteiro alvoroçava-nos o coração, porque trazia notícias de um
familiar, de um amigo, do namorado ou até do amante. Não sendo caso de morte
era motivo de grande satisfação.
O
carteiro, em alguns lugares como o meu, ainda toca, mas lamentavelmente já não
provoca a alegria de antigamente. Na sua bagagem apenas traz: propaganda, faturas
ou intimidações do tribunal…
Ainda
me recordo do prazer que me dava abrir uma carta, ansiosa por desvendar as novidades
que se escondiam dentro dela.
Primeiramente
os envelopes, eram brancos, depois surgiram os coloridos, alguns com discretos desenhos,
e os perfumados para os apaixonados.
A
missiva fosse redigida num português correto ou com erros ortográficos, pouco
importava. O que nos regozijava era receber as notícias de alguém que se
lembrava de nós.
Depois
vieram outros meios de comunicação, mais eficazes que condenaram à morte a
humilde carta.
Mataram
as palavras de amor ditadas pelo coração, o carinho da família envolvido num
rosário de conselhos, o amor e a amizade postados num modo particular de
escrever.
O
magro postal também está morto. Seja o postal de férias, de natal, o de aniversário…
e por aí por diante.
O
desenho das emoções foi sendo substituído pelo telefone. Longas horas de
namoro, segredos e inconfessáveis desejos deslizavam de um ao outro lado da
linha, na ilusão da curta distância em que as palavras se cruzavam.
Depois
veio o telemóvel, mais moderno e indiscreto. E de novo a imaginação do sentido
prático das coisas nos fez cativos de uma necessidade que nos rouba a liberdade
e nos obriga a mentir.
Por
fim o email, pequeno, sedutor e com relevada carga emotiva, que veio para
ficar.
É
o mais completo meio de comunicação à distância de um clique.
Paradoxalmente,
parecendo que estamos mais próximos una dos outros, na realidade distanciando-nos cada vez
mais.
Eu
gostava de olhar para a carta. Com letras bem ou mal desenhadas eram os ecos da
alma de quem as escrevia.
A
maior parte dos emails que hoje recebo, é certo que são a lembrança e carinho
de alguém para mim, mas não veem do seu coração.
Eles
são criados para brilhar e circular, destinados a longos percursos, que alguns
chegam vezes sem conta ao meu correio. Mas não preenchem vazios de alma.
Razão
porque vejo imensos diariamente e continuo a sentir uma enorme solidão.
«Desejo
que tu e a tua família se encontrem bem, que eu com a Graça de Deus cá vou
andando.
Escrevi-te
só para te dizer que…»
A
imperfeição do homem está na permanente procura da perfeição
.
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